Com a casa destruída e sem ter para onde ir. Essa é a realidade de milhares de pessoas que perderam o lar nos últimos dias por conta das fortes chuvas que atingem a Bahia. Em Itabuna, cerca de 242 pessoas de 82 famílias buscaram abrigo no Parque de Exposições da cidade, quando o nível do Rio Cachoeira subiu e alagou boa parte do município. Desde de sexta-feira (24), o grupo está vivendo em baias que comportam animais durante exposições. A prefeitura começou o processo de transferência de parte dessas pessoas na quinta-feira (30).
Tailane Reis, de 27 anos, é uma dos muitos que procuraram, por falta de alternativa, se estabelecer nas baias. A casa em que ela, o marido e o filho de quatro anos moram foi atingida pela enxurrada na sexta-feira da semana passada. A moradora conta que não recebeu auxílio do poder público e teve que, por conta própria, conseguir um barco para retirar alguns móveis de casa. A maioria das pessoas que se alojou no Parque de Exposições Antônio Setenta é de vizinhos da rua de Palha, que fica nas margens do rio.
Quando começou a amanhecer no dia seguinte ao Natal, ela ficou sabendo que o Parque de Exposições, perto do local onde mora, estava recebendo desabrigados e foi com a família para lá. “A gente não tinha para onde ir, perdemos quase tudo, não tenho possibilidade de voltar para a minha casa. Eu não estou aqui porque quero e, sim, porque não tenho para onde ir”, desabafa. As famílias dela e do marido também se estabeleceram no parque nos últimos dias.
Só depois que o grupo realizou um protesto na quarta-feira (29), a prefeitura de Itabuna começou a se movimentar para tirar as famílias de lá, segundo Tailane. “Tivemos que chamar a atenção ou não iríamos sair daqui”, diz. No dia seguinte, a gestão municipal e a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) realizaram uma operação conjunta para transferir os moradores que se alojaram no parque e também outras pessoas que estavam abrigadas debaixo do viaduto Paulo Souto.
De acordo com a prefeitura, há muitos anos, famílias que residem em áreas ribeirinhas dos bairros Maria Matos (rua de Palha), Urbis IV e Nova Itabuna são transferidas para abrigos nos períodos de cheia do rio. Nesses momentos, as baias eram limpas e recebiam lonas para receber os desabrigados e desalojados no parque.
Porém, como as chuvas do Natal foram as mais fortes registradas em 54 anos, o grupo ficou isolado no local, devido a obstrução de um trecho da BR 415. A secretária estadual de Saúde Tereza Paim e o prefeito Augusto Castro estiveram no parque na quinta-feira para orientar as famílias a serem transferidas para um abrigo montado na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), mas muitos ficaram receosos.
Segundo Tailane, a energia da faculdade estava desligada e na quinta-feira ela foi até o local para ver se valia a pena fazer a mudança. “Fiquei insegura, mas vi como a faculdade está e pretendo ir amanhã (sexta-feira, 31). Preciso tirar meu filho daqui. A prefeitura disse que vai limpar a faculdade e ligar a energia”, explica ela.
Tereza Paim afirmou que o Parque de Exposições não possui as condições sanitárias adequadas. Entre os riscos citados, estão resíduos de animais, pulgas, carrapatos e excesso de umidade. O local também recebeu profissionais da saúde, que realizaram a vacinação contra Hepatite A, Influenza, antitetânica e covid-19.a